Laboratório do Professor Oak.

"All, acorde." - ouço a voz de minha mãe enquanto sinto sua mão delicada sobre meu ombro. Abro os olhos com esforço, mas fecho-os rapidamente ao ignorar o chamado e simplesmente virar para o outro lado na cama. Isso serve apenas para que minha mãe eleve o tom e comece a me sacudir - "All, levante-se! Você vai se atrasar para levar sua prima ao laboratório!" - diz ela, e eu instantaneamente me ergo com esforço e me põe sentado à beira da cama. Já é segunda-feira, e diferentemente das últimas segundas-feiras ao longo deste tedioso ano, hoje não é uma segunda-feira qualquer. Hoje é o dia da distribuição de Pokémons para treinadores iniciantes realizada no laboratório do Prof.º Oak, e dessa vez eu prometi aos meus tios que levaria minha minha pequena prima Molly para receber seu primeiro Pokémon.

Enquanto me apresso para tomar banho, escovar os dentes e me aprontar em tempo recorde, me ponho a imaginar o quão sortuda a pequena Molly é por ter sido escolhida para participar da distribuição de Pokémons desta temporada. Eu, no auge dos meus 19 anos, nunca tive o prazer de chamar um Pokémon de meu - ainda que convites por parte do próprio Oak, um velho amigo do meu pai, nunca tenham faltado, o problema é que meus pais nunca gostaram da ideia de um garoto viajando sozinho mundo afora. O pais de Molly, por outro lado, mostram-se definitivamente mais abertos quanto à isso.

Após passarmos na casa dos meus tios e apanharmos Molly, meu pai dirige até a rodoviária e pouco tempo antes do ônibus chegar, ele me diz - "Você já é um jovem homem, Alaric. Você vai viajar até Pallet e estará responsável por sua prima Molly. Esta é uma grande responsabilidade e só aceitamos que fosse você a levá-la porque você já provou sua maturidade. Portanto, tome cuidado, filho, e tenha uma boa viagem! Mande lembranças para o velho Oak, ok?" - ele estende os braços no ar e sem perder tempo eu o abraço - "Não se preocupe, pai! Vai dar tudo certo! E eu preciso ver algo de novo, não fazer nada está me deixando louco!" - digo, e após receber um beijo de despedida de minha mãe, subo no ônibus com Molly e em pouco tempo saímos de Saffron rumo à cidade de Pallet. Durante toda a viagem, Molly não para de falar nos seus planos e metas, algo que me surpreende uma vez que ela é apenas uma garotinha. Ver a excitação de minha pequena prima chega até a me animar de uma forma inusitada, como se fosse eu quem estivesse prestes a ganhar um Pokémon.

Após chegarmos em Pallet, seguimos direto até o laboratório do Prof.º Oak. Chegando lá, Molly se reúne a dois garotos da sua mesma idade com os quais instantaneamente faz amizade. Pelo entusiasmo equivalente, suponho que os outros garotos devam ser os outros sortudos que também estão prestes a iniciar suas respectivas jornadas. É então que Oak aparece - "Bom dia, crianças!" - o velho homem diz em um tom cálido e recebe um urro de animação vindo do trio de pequenos. Oak esboça um misto de surpresa e satisfação ao notar a minha presença - "Alaric! Que bela surpresa!" - ele diz "Bom dia, professor. Vim acompanhar minha prima Molly." - respondo e ele encerra - "Maravilhoso! Agora, vamos! Alguns Pokémons nos esperam!" - e ao terminar de falar, o professor guia as crianças para uma das salas do laboratório; eu os acompanho.

Adentro o recinto de forma tímida e permaneço encostado na parede ao lado da porta. Observo atentamente enquanto Prof.º Oak faz um discurso de introdução às crianças. Ouça aquelas palavras com pesar, imaginando como seria se eu estivesse no lugar de Molly em alguma ocasião quando eu era mais jovem. Atendendo aos pedidos ansiosos, Oak finalmente apresenta três Pokémons: Bulbasaur, Charmander e Squirtle. Permaneço estático, fascinado ao ver estes três Pokémons tão de perto. Cada criança escolhe um dos Pokémons e Molly logo se apressa para me apresentar Bonnie, o seu mais novo Bulbasaur fêmea. Mal esperando o Prof.º Oak terminar de dar algumas últimas instruções e entregar-lhes pokébolas e uma pokédex pra cada, as crianças correm para o lado de fora do laboratório para batalhar usando seus novos Pokémons; Oak e eu permanecemos na entrada do laboratório assistindo ao momento de extrema felicidade dos garotos.

"E quanto a você, Alaric?" - Oak diz subitamente - "Quanto a mim o quê, professor?" - respondo confuso e logo Oak repousa sua mão no meu ombro enquanto me olha firme - "Eu entendo que seus pais nunca deixaram você vir até aqui antes para receber seus próprio Pokémon porque eles temiam pela sua segurança, embora você e eu saibamos que toda criança deveria ter o direito de trilhar seu caminho com seu próprio parceiro Pokémon. Em todo caso, seus pais são seus pais e a razão sempre foi toda deles por prezarem pelo seu bem-estar." - por um instante deixo de prestar atenção na pequena batalha travada pelos pequenos e passo a ouvir com extrema atenção às palavras de Oak que me tocam de uma forma intensa. Ele prossegue - "Mais isso tudo já ficou no passado. Foquemos agora no presente. Veja sua prima Molly, veja o quão radiante é o sorriso no seu rosto e como isso reflete a vontade que ele está prestes a realizar ao iniciar uma jornada no mundo Pokémon." - continuo atento à fala de Oak, esforçando-me para entender o ponto em que ele quer chegar. É então que ele diz - "Você não quer ter a chance de finalmente poder sentir isso tudo, Alaric?" - e eu não consigo esconder minha perplexidade. "Como assim professor? Você por acaso não está insinuando que eu inicie uma jornada a esta altura do campeonato, está?" - digo ainda incrédulo e ele responde - "Por que não? Nunca é tarde para se perseguir um sonho! E pelo brilho no seu olhar só de ver aqueles Pokémons, eu tenho certeza que este é o seu maior desejo, não é mesmo Alaric?" - assim o Prof.º Oak me pega totalmente de surpresa, vendo mais fundo dentro de mim do que eu sou capaz de admitir. Uma chama começa a arder no meu peito, tendo como combustível as palavras do professor. Entretanto, rapidamente olho para baixo desanimado e balbucio - "Mesmo se eu dissesse que gostaria de iniciar uma jornada, o senhor não tem mais nenhum Pokémon sobrando depois de ter distribuído para os garotos." - Oak libera um brando sorriso e diz - "Por favor, Alaric, eu sou o 'Professor Pokémon'! Como pode achar que eu não tenho mais nenhum Pokémon sobrando? E pra falar a verdade eu tenho o Pokémon perfeito para você!" - a essa altura eu não poderia resistir nem usando todas as minhas forças: a chama que arde no meu peito nesse instante é nada mais, nada menos que a minha vontade de gritar aos quatro ventos toda a minha vontade de finalmente poder ganhar o meu primeiro Pokémon.

Deixando os pequenos brincando com os seus Pokémons do lado de fora do laboratório, acompanho Oak até a sala onde ocorreu a distribuição. Aguardo ansioso para ver o que Oak está fazendo e quando este se volta para mim, o mesmo trás um pokébola em mãos. "Alaric, conheça esta bela moça!" - ele diz e aperta o botão no meio da pokébola. Segundos eternos se passam até que um belo e pequeno Eevee se materialize na minha frente. Permaneço congelado por alguns instantes, sem a mínima reação. O pequeno Eevee se espreguiça e dá alguns passos em minha direção. Olho para o professor e este me retorna um olhar encorajador. O Eevee me encara atentamente com o olhar mais doce que eu já pude presenciar em vida. Quase sem fôlego, inclino o meu corpo e me aproximo do pequeno Pokémon, estendendo a mão para acariciá-lo. Em resposta à carícia, o Eevee literalmente salta nos meus braços e se enfia dentro da minha jaqueta enquanto roça a cabeça no meu peito. "Professor? Isso é sério?! Eu posso realmente ficar com ele?!" - digo sem o menor pudor em esconder minha exaltação e o professor responde - "na verdade, você pode ficar com ela! Este é um Eevee fêmea. Estive esperando por um bom tempo por um treinador ao qual eu pudesse confiar esta garota, acho que não há dúvidas de que ela realmente escolheu você!" - ele sorri e eu agarro minha Eevee e ergo-a no alto - "Seu nome será Cornélia, e eu prometo que seremos os melhores amigos!" - digo e a Eevee repete o seu próprio nome em sinal de satisfação.

Após passar algum tempo no laboratório com o professor Oak, retorno à rodoviária ao fim da tarde e junto à Molly, Bonnie e minha nova melhor amiga, Cornélia, embarcamos de volta para Saffron. Chegando em casa, apresento aos meus pais o meu primeiro Pokémon e revelo a eles que estarei saindo de casa pra iniciar minha própria jornada mundo afora. Para minha surpresa, o que eu achava que seria motivo de muita discussão, apenas se converteu em um momento de depósito de esperanças e apostas por ambas as partes. Por um lado, eu prometendo aos meus pais que fariam de tudo para não desapontá-los, por outro, meus pais me dando a chance de seguir os meus verdadeiros sonhos.

Antes de dormir, deixei Cornélia fora da pokébola e a mesma se aconchegou na casa ao meu lado. Por bastante tempo, comecei a sonhar acordado com as surpresas e emoções que o novo dia me trará. Uma boa noite de sono me separa do início da minha jornada. De Saffron para o mundo, e com a melhor das companhias, minha Eevee Cornélia. O mundo nos espera ao amanhecer!